Quando visitámos pela primeira vez a quinta, apreendemos de imediato o terreiro central de planta triangular – em torno do qual gravitam os três edifícios que compõem o pequeno núcleo agrícola – como um privilegiado espaço social de vocação comunitária, de circulação e distribuição entre as várias zonas da propriedade. Este centro nevrálgico, funcional e representativo, possui ao mesmo tempo um carácter intimista, sendo a sua centralidade acentuada por uma frondosa figueira, que funcionando como uma cúpula natural que matiza a luz e regula a temperatura, protege o terreiro do sol intenso nos meses mais quentes.
A intenção geral da intervenção arquitectónica foi manter e enfatizar o espírito rural já presente no conjunto edificado e sua envolvente, eliminando os elementos dissonantes, do ponto de vista estilístico e construtivo, que ao longo do tempo foram sendo adicionados às construções originais, conservando o carácter tradicional das soluções e procurando assegurar que a introdução de novos elementos não descaracterizasse a imagem global do existente.
Organizámos o novo programa localizando as funções de serviço no piso térreo, tirando partido da sua relação mais directa com os espaços exteriores, e os espaços de alojamento no piso superior, conferindo maior privacidade aos mesmos.
No tratamento das fachadas optou-se por expor o aparelho de pedra de granito sempre que possível e usou-se um pigmento rosa velho, evocativo da cultura de frutos silvestres característica e “imagem de marca” da produção agrícola da Naturpassion, combinando-os com um tom verde de índole campestre nas novas caixilharias de madeira.
Nos interiores dedicámos especial atenção à valorização dos elementos pré- existentes, nomeadamente às estruturas de madeira de pisos e coberturas, aos fornos da antiga cozinha e ao lagar de granito integrado na nova loja/recepção do empreendimento, prevalecendo a madeira nos novos elementos introduzidos. Alguns elementos de cariz mais vernacular, já demasiado deteriorados, foram reinterpretados segundo desenho e técnica contemporânea, tendo como intenção manter o espírito do lugar e do tempo da construção original.
Arquitectos: Pedro Cavaco Leitão e Rossana Ribeiro
Decoração pelo artista plástico Fernando Marques de Oliveira